terça-feira, 28 de julho de 2009

Definição para arte

Buscando uma definição para “arte”, encontramos não apenas uma, duas definições. São muitas, e há quem acredite, como Arthur Danto, que não é possível defini-la. Assim como Ana Mae, quando me perguntam o que é arte, sinto-me um tanto impotente para apresentar uma resposta satisfatória. E isso acontece exatamente porque não há uma resposta. É quase como tentar obter uma resposta completa para a grande pergunta que aflige o ser humano: ‘quem sou eu’? Não há ainda algo formado, concreto que alcance e revele a totalidade humana. Encontramos material que nos define como seres biológicos, definições religiosas, psicológicas, mas fragmentadas, incompletas, insuficientes.

Porém, podemos falar da história da arte, de suas características, dos artistas e de suas motivações. Podemos analisar a imagem artística, falar da obra. Há ferramentas que nos ajudam a ter um olhar sensível, crítico e investigador. Há possibilidades de não sermos ludibriados por algumas armadilhas do senso comum no que se refere à arte. Por não ter uma definição completa , totalitária, há quem fique à vontade para erroneamente chamar de arte qualquer coisa. Vira um vale-tudo – as conseqüências disso são bem ruins. O vale-tudo é um tratamento de desvalorização, deformação, empobrecimento, vulgarização e ridicularização. Abaixo, transcrevo um trecho de meu sentimento com relação ao trato com arte na escola:

“É muito comum, ao ser abordada na escola, as pessoas proferirem a seguinte pergunta:"Que arte você está fazendo aí?" Qualquer coisa, até a mais banal, se está nas minhas mãos, vira alguma coisa artística. Percebo, com certa tristeza e preocupação, como essas pessoas podem ser ludibriadas facilmente. Isso justifica o deslumbramento exagerado que alguns educadores tiveram por trabalhos feitos sob minha coordenação nesses cinco anos de atividades - alguns deles eram simples pesquisas, e algumas ruins, tímidas. Mas porque eu sou ‘a professora de artes, ‘a que entende do assunto’, imunizo qualquer suspeita dos que não têm as ferramentas do discernimento. E isso é muito sério. Sem conhecimento, perdemos a posssibilidade da dúvida”¹.

Joseph Beuys, grande artista alemão (*1921/+1986), traz uma definição para arte que, apesar de não responder nada, diz tudo: “Arte=homem”. Dá pra pensar que arte, como dissemos antes, é algo que as palavras ainda não alcançam, não tornam visível sua totalidade. Assim como o próprio ser humano. Mas repito: nem tudo pode ser chamado de arte e nem todo mundo é artista. E falando de escola, nosso local de trabalho, aquilo que é feito pela criança – seja um desenho, uma modelagem, colagem, pintura, por mais bonito que seja, não é necessariamente uma obra de arte. Certa vez, conversando com uma colega de profissão, ela dizia que arte para ela era todo e qualquer trabalho manual. Após dizer isso, apontou para um mosaico da área externa do berçário- um chão colorido com pedrinhas mas sem um desenho figurativo. Apenas um chão coberto por pedras para dar mais cor ao ambiente. Para ela, aquele era um trabalho artístico. Foi difícil tentar convencê-la do contrário. A colega pareceu muito apegada ao que acredita e com pouca disposição para desconstruir esse pensamento. Infelizmente, esbarramos com essas posturas. E o problema da professora de manter tal posição é que ela, como formadora de opiniões, acaba dividindo com os educandos conceitos equivocados.

Para concluir, grifo- e com um grifo bem acentuado - a importância da pesquisa para pensar sobre, falar sobre e fazer arte. Somos educadores, formadores e portadores de imensa responsabilidade. Portanto, é irresponsável embarcar no vale-tudo. Ainda que continuemos a não possuir respostas prontas, trilhar caminhos criativos e enriquecidos trarão, indubitavelmente, melhor qualidade para nosso trabalho, sobretudo aqueles que ousamos e sonhamos nos territórios da arte.

CRISTINA BORGES - texto produzido para o primeiro encontro do curso "Arte-educação na educação infantil", que acontecerá no 2º semestre de 2009.

¹ trecho que está no texto aqui mesmo no blog:

Arte-educação nas UMEIs. Apontando alguns problemas.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Novo filme com Christina

Cristina Borges


Christina Ricci, atriz que interpretará Cristina Borges no cinema

A atriz norte-americana Christina Ricci (Minha Mãe é uma Sereia (1990), A Família Addams (1991),Aprendiz de Feiticeiro (1991), A Família Addams 2 (1993),Gasparzinho, O Fantasminha Camarada (1995)...), será, em breve, no próximo filme de Firmando Mulleres, a professora mineira Cristina Borges. O filme terá trilha sonora bárbara, com pérolas do rock'n roll nacional dos anos 70( Casa das Máquinas, Joelho de Porco, Mutantes, Hyldon, A Bolha) e clássicos do rock como "Lola"(The Kinks) e "Gimme Gimme Good Loving"(Crazy Elephant) - e outras maravilhas sonoras dos The Jackson Five, The Beatles, The Rolling Stones, The Who, The Doors. A história, baseada na vida da professora, é uma explosão de humor e poesia na pacata Belo Horizonte dos anos 2000. Christina Ricci precisou engordar 20 quilos para viver a educadora. Declarou que está feliz pelo papel e disse que, além do nome, tem coisas em comum com a personagem - também gosta de Egon Schiele, comida chinesa e rock.Ricci revelou também que ficou impressionada com a semelhança facial com a professora: "Como somos parecidas!" A atriz, para viver o papel, leu obras de Paulo Freire e Ana Mae Barbosa. Aguardem e confiram!

Caramba!!! Impressionante!

http://elt0n.wordpress.com/2006/12/18/julian-beever-e-seus-desenhos/

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Curso Arte-educação na Educação Infantil: (10)construindo caminhos


O curso, oferecido pela nossa companheira Cristina Borges, pretende, acima de tudo, reunir educadores para uma reflexão mais cuidadosa sobre nossas práticas, sobretudo sobre aquelas que qualificamos como atividades de "arte".

Será realizado quinzenalmente, em quintas-feiras, a partir de agosto, de 18h30 às 21h.


Optamos por não realizar o curso aos sábados por causa da pós-graduação da UFMG oferecida pela PBH. Portanto, as datas serão: 20 de agosto; 03 e 17 de setembro; 01 e 22 de outubro; 05 de novembro.


Local: Auditório do Sind-Rede/BH


As inscrições para o curso estão abertas até dia 14 de agosto no sindicato ou pelo e-mail educacaoinfantilpbh@gmail.com. Solicitamos que para o primeiro encontro os(as) cursistas tragam experiências de atividades de arte-educação.


A pauta do curso é:


O que é arte?

O educador e seu contato com arte. Fazendo levantamentos (vai a museus, Palácio das Artes, como vê a arte contemporânea, gosta de desenhar, tem aversão, etc);

Arte-educação na educação infantil: desafios e possibilidades.

Precisamos do quê para trabalhar com arte na educação?

Clichês e práticas que descaracterizam a arte.

A proposta triangular de Ana Mae Barbosa: um caminho interessante.

O RCNEI de arte: visões críticas sobre.

A formação dos professores na Universidade: preparo ou despreparo para lidar com arte na escola?

Indústria cultural: até onde a escola endossa o sistema?

Projetos de arte nas UMEIS: debates e avaliações sobre.

Análise de material didático de "arte".


Nos encontros, a demanda dos participantes pode aumentar a pauta.

Texto extraído do blog:

http://www.educacaoinfantilpbh.blogspot.com/

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Presente de Alexandre

""Oi, Cris. Se na biblioteca da sua escola tiver o livro "De Pernas pro AR - A Escola do Mundo ao Avesso", do Eduardo Galeano, pegue pra ler. Se não tiver, procure ler de qq jeito, vale a pena demais !

TRECHO:

“Caminhar é um perigo e respirar é uma façanha nas grandes cidades do mundo ao avesso. Quem não é prisioneiro da necessidade é prisioneiro do medo: uns não dormem por causa da ânsia de ter o que não têm, outros não dormem por causa do pânico de perder o que têm. O mundo ao avesso nos adestra para ver o próximo como uma ameaça e não como uma promessa, nos reduz à solidão e nos consola com drogas químicas e amigos cibernéticos. Estamos condenados a morrer de fome, morrer de medo ou a morrer de tédio, isso se uma bala perdida não vier abreviar nossa existência.”

OUTRO:

“A publicidade manda consumir e a economia proíbe. As ordens de consumo, iguais para todos, mas impossíveis para a maioria, são convites ao delito.”

SEM QUERER ENCHER, MAIS UM:

“A igualação, que nos uniformiza e nos apalerma, não pode ser medida. Não há computador capaz de registrar os crimes cotidianos que a indústria da cultura de massas comete contra o arco-íris humano e o humano direito à identidade. O tempo vai-se esvaziando de história e o espaço já não reconhece a assombrosa diversidade de suas partes. Através dos meios massivos de comunicação, os donos do mundo nos comunicam a obrigação que temos todos de nos contemplar num único espelho, que reflete os valores da cultura de consumo. “A televisão (...) não só ensina a confundir qualidade de vida com quantidade de coisas...”

ACHO QUE VC VAI GOSTAR
"
Alexandre

Num diálogo com o companheiro Alexandre no blog Coletivo Lima Barreto, ele me presenteou com as ideias acima. Querido Alexandre, agora tenho mais tesouros para minha coleção. Não consigo achar palavra melhor(tesouros) para qualificar tais ideias. O esclarecimento, apesar de revelar a assombrosa e grotesca cara da época em que vivemos, é também por demais valioso - e mais valioso ainda é perceber que ainda não perdi a vida e que, apesar dos pesares, nessa terra de fugitivos(plagiando T.S. Elliot), ainda continuo caminhando ao contrário. E eu posso, mais do que nunca, jurar(e plagiar de novo - desta vez "Mutantes") que é melhor, e muito, não ser o normal!

Blog dos auxiliares de biblioteca e amigos:
para ler nossa conversa: