Sou desenhista por formação e amo a arte. Minha passagem pela Belas-Artes, apesar de rápida e estranha, foi fundamental para a afirmação de minha identidade. Na educação infantil pública de BH, pouquíssimas pessoas têm essa formação. A maioria veio da Pedagogia. E essa maioria tem um estranhamento intenso por arte. São até criativos, inventivos, bolam coisas muito bacanas com a meninada - muitas práticas, inclusive, esbarram nas práticas artísticas. E, ainda assim, ao falarem de "arte", demonstram pouco ou quase nenhum conhecimento da coisa.
É muito comum, ao ser abordada na escola, as pessoas proferirem a seguinte pergunta:"Que arte você está fazendo aí?" Qualquer coisa, até a mais banal, se está nas minhas mãos, vira alguma coisa artística. Percebo, com certa tristeza e preocupação, como essas pessoas podem ser ludibriadas facilmente. Isso justifica o deslumbramento exagerado que alguns educadores tiveram por trabalhos feitos sob minha coordenação nesses cinco anos de atividades - alguns deles eram simples pesquisas, e algumas ruins, tímidas. Mas porque eu sou "a professora de artes", "a que entende do assunto", imunizo qualquer suspeita dos que não têm as ferramentas do discernimento. E isso é muito sério. Sem conhecimento, perdemos a posssibilidade da dúvida.
Dessa forma, sou a favor de uma formação decente em arte desde a educação infantil. E a formação do educador, nas escolas de pedagogia, em arte, precisa melhorar. Sei que muita coisa mudou, reconheço o esforço e a bravura de pessoas como Ana Mae Barbosa, Lúcia G. Pimentel, Fayga Ostrower e os arte-educadores, artistas e pesquisadores que, no anonimato, desdobram-se por uma educação transformadora. Porém, ainda fico assombrada ao ver o pessoal da pedagogia tão desinformado quando o assunto é esse. Não posso deixar de fora também as pessoas dos serviços gerais. São nossos colegas e também desconhecem o assunto. Oferecer formações para eles é essencial. Infelizmente, muitas escolas discriminam as pessoas que são, na realidade, nossos colegas, companheiros. Fico feliz por hoje trabalhar numa UMEI onde o cuidado para que isso não aconteça é muito grande.
Este blog é uma tentativa de informar, formar, trocar, construir, desconstruir. De qualquer forma, não tenho a intenção de sonegar conhecimento. Não compreendo porque há quem o faça. Na verdade, até entendo de certa maneira. Conhecimento liberta e sei que a liberdade não é desejada por quem está no controle. Até na possibilidade mínima de enganar há obtenção de poder. Por princípio, devo combater isso. Portanto, estou aberta ao diálogo, e sobretudo à dúvida. Não estou acima de qualquer suspeita.